Sophie

Sophie caminha distraída

Por sobre a neve

A brancura da sua pele

Sob um longo vestido

Contrasta com a escuridão da noite

Desviando dos galhos dos arbustos

De repente ele surge

Alto, cabelos negros

Depois do demorado abraço

O encontro do calor dos lábios

Do casal

Forma uma névoa

Que paira no ar

Os olhos anuviados de paixão

De repente, corre uma lágrima

Ele a recolhe da face dela

Ela segura delicadamente a mão dele

Pronuncia apenas duas palavras:

“- Não posso...”

E se vai

Para sempre.

Rosangela Bastos

Sentada na cadeira gelada

Do consultório médico

À espera ansiosa do diagnóstico

Sem saber o que pensar

O ar rareando cada minuto mais

A constante sensação de que irá morrer

No segundo seguinte

O extremo desespero

Enfim sai o resultado

Transtorno afetivo bipolar

Como não ter depressão ou algo do tipo?

Seria totalmente incoerente

Se não a tivesse

Alguém que vive

Num mundo totalmente estúpido

Completamente árido

Sentindo-se rodeada por pessoas hipócritas

Vem então a vontade de desaparecer

Fugir de toda essa imundície

Mas não há sequer uma saída

Em todas as direções há mediocridade sem fim

Vislumbro, porém, uma diminuta luz

Bem ao longe

E sobrevivo apenas porque acredito

Que um dia a alcançarei

E a persigo avidamente.

Rosangela Bastos